Uma cena de barbárie e crueldade marcou a madrugada de sábado (19) no município de Itamaraju, no extremo sul da Bahia. Um caminhão boiadeiro carregado com cerca de 100 bovinos tombou no quilômetro 816 da BR-101, espalhando a carga viva pela pista. O motorista, José Roberto da Cruz, de 47 anos, natural de Minas Gerais, saiu ileso. Mas o que veio depois causou revolta e indignação em todo o país.


Logo após o acidente, dezenas de populares se aglomeraram no local, invadiram a área isolada e começaram a abater os animais feridos ainda com vida, usando facões e ferramentas improvisadas. Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver pessoas cometendo os atos de forma brutal, enquanto outros retiravam a carne dos bois e a colocavam em veículos e sacolas.
O episódio, registrado por equipes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e de resgate, transformou uma tragédia em uma cena de horror. Muitos dos animais agonizavam após o tombamento, mas em vez de receberem socorro, foram mortos ali mesmo, às margens da rodovia. O caso repercutiu nas redes sociais e gerou forte repúdio da população e de entidades de defesa dos animais, que classificaram a ação como “um ato de selvageria e desrespeito à vida”.
Segundo informações da PRF, o caminhão seguia de Minas Gerais com destino à Bahia quando o motorista perdeu o controle em uma curva. Parte dos animais morreu na hora, e outros ficaram feridos ou conseguiram escapar, espalhando-se pela pista. A rodovia precisou ser interditada por várias horas até a retirada dos destroços e dos corpos dos animais, sendo liberada apenas no final da manhã.
O comportamento dos populares, no entanto, chocou até os socorristas. “Enquanto tentávamos sinalizar o local e evitar novos acidentes, pessoas se aproximavam com facões e começavam a cortar os animais vivos. Foi uma cena revoltante”, relatou um policial rodoviário que esteve na ocorrência.
De acordo com o artigo 155 do Código Penal, a carga acidentada continua sendo patrimônio do proprietário, e o saque ou abate dos animais é considerado furto, sujeito a pena de até quatro anos de prisão. Além disso, o artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais (9.605/1998) prevê detenção para quem pratica maus-tratos ou atos de crueldade contra animais.
Autoridades locais reforçaram que a carne retirada de forma irregular não possui nenhum tipo de inspeção sanitária e representa grave risco à saúde pública, podendo estar contaminada por bactérias ou substâncias nocivas.
A Polícia Civil deve instaurar inquérito para identificar os responsáveis pelo saque e pelo abate ilegal. Até o momento, nenhuma prisão foi confirmada.
O caso chama atenção não apenas pela gravidade do acidente, mas principalmente pela falta de humanidade e pelo comportamento de quem se aproveitou de um momento trágico para cometer atos ilegais e violentos contra os animais.
Entidades de proteção animal cobraram das autoridades uma resposta firme e ações de conscientização para evitar que episódios assim voltem a acontecer.
“Foi uma cena desumana. Esses animais já estavam sofrendo e ainda foram mortos de forma cruel. É preciso punir os responsáveis e reforçar o respeito à vida, seja humana ou animal”, declarou uma representante da ONG regional Anjos de Quatro Patas, em nota pública.
A PRF segue investigando as causas do tombamento e colabora com a Polícia Civil para identificar os autores das agressões. Enquanto isso, as imagens seguem viralizando e provocando indignação — um retrato triste da violência e da falta de empatia que ainda marcam certas atitudes em momentos de tragédia.

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