A megaoperação das forças de segurança nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, atingiu proporções sem precedentes e pode ter deixado mais de 130 mortos, segundo a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPERJ). O número é mais que o dobro do balanço oficial divulgado pelo governo estadual, que fala em 64 vítimas, entre elas quatro policiais.
De acordo com o órgão, defensores que acompanham a situação em campo relataram que moradores teriam levado cerca de 70 corpos à praça São Lucas, no Complexo da Penha, na manhã desta quarta-feira (29). As equipes da Defensoria dizem ter visto marcas de tiros na nuca, perfurações nas costas e ferimentos nas pernas em diversas vítimas, o que levanta suspeitas sobre possíveis execuções.
A operação
A ação, considerada a maior em 15 anos no estado, mobilizou mais de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar. O objetivo declarado era cumprir 69 mandados de prisão em aproximadamente 180 endereços e desarticular a estrutura do Comando Vermelho (CV), facção que domina a região.
O saldo divulgado até o momento pelo governo do Rio inclui:
-
64 mortos (60 suspeitos e 4 policiais);
-
81 presos;
-
Mais de 90 fuzis apreendidos, além de granadas, pistolas e munições;
-
Grande quantidade de drogas ainda sendo contabilizada.
As autoridades classificaram a ação como uma resposta ao que chamaram de “narcoterrorismo”, citando o uso de drones, bombas caseiras e armamento pesado por parte de criminosos.
Versões em conflito
Enquanto o governo defende a operação como “necessária para restabelecer a ordem” nas comunidades, a Defensoria Pública, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) pedem transparência nos dados e questionam a proporcionalidade da força empregada.
“O número de corpos encontrados fora da contagem oficial e os relatos de moradores indicam uma possível subnotificação das mortes”, afirmou a defensora pública responsável pela vistoria, em nota enviada à imprensa.
Moradores e ativistas relatam que há corpos ainda em áreas de mata e que muitos não foram recolhidos oficialmente. Unidades de saúde e escolas seguem com funcionamento parcial, e o transporte público nas redondezas foi interrompido durante boa parte do dia.
Repercussão
Entidades de direitos humanos classificaram o episódio como um dos mais letais da história do Rio. A Anistia Internacional e a Human Rights Watch pediram investigação independente sobre o caso. O MPF também anunciou que avaliará se houve violações de direitos humanos durante a operação.
No Congresso Nacional, parlamentares de diferentes partidos pediram a convocação do ministro da Justiça e do governador do Rio para prestar esclarecimentos. Já o governo estadual defende que “a ação foi legítima e necessária” e afirma que “todas as mortes serão investigadas”.
Impactos nas comunidades
Além das mortes, a operação afetou severamente a rotina dos moradores. Escolas e creches suspenderam as aulas, unidades de saúde foram fechadas e dezenas de famílias precisaram deixar suas casas. Relatos de falta de energia elétrica e água se multiplicaram durante os confrontos.
“Estamos vivendo um pesadelo. Tem gente desaparecida, e não sabemos quem está vivo ou morto”, disse uma moradora da Penha, que preferiu não se identificar por segurança.
Próximos passos
A Defensoria Pública e a DPU anunciaram a criação de um grupo de monitoramento e coleta de informações para cruzar os dados de mortos e desaparecidos. A expectativa é de que um novo balanço oficial seja divulgado até o fim da semana.
Se confirmado o número de 132 mortos, essa será a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, superando inclusive a ação do Jacarezinho, em 2021, que deixou 28 mortos.

Comentários: